Quem frequenta as praia do Gonzaguinha, Milionários ou Itararé, em São Vicente, no litoral de São Paulo, há alguns anos, percebe as mudanças na paisagem. Locais que possuíam uma larga faixa de areia, para que banhistas pudessem caminhar ou praticar esportes à vontade, hoje em dia possuem apenas uma pequena área, já que grande parte foi invadida pela maré. Muitos estudos já foram feitos para explicar a situação e, em comum, apontam que interferências do homem são responsáveis pelo fenômeno.
Para a coordenadora do curso de oceanografia do Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte), Mariângela Oliveira de Barros, a mudança vem sendo observada há 15 anos e é mais acentuada na faixa que vai da Ilha Porchat até o Gonzaguinha. "A faixa de areia era muito larga e vários fatores contribuiram para a diminuição. Existe um fluxo de transporte de areia, que vem de Santos e segue até São Vicente, que é o que alimentaria essa área. Foram construídas várias barreiras com a falsa ideia de que isso ia aumentar a praia", explica.
Essas barreiras são os quebra-mares. Existentes em alguns locais das praias, eles foram construídos nos anos 50 com o objetivo de conter a invasão da água do mar. "A engenharia costeira já prova que isso não funciona. Praias do mundo inteiro estão tirando essa estrutura. Portugal e Espanha, por exemplo, estão retirando para recuperar as praias, porque aí o fluxo de sedimento seria contínuo, não pararia", afirma Mariângela.
Outra grande interrupção de areia, segundo a oceanógrafa, é o emissário de Santos. "A fonte de sedimento seria o canal de estuário de Santos, porque os sedimentos vêm continuamente pela serra. Existe uma corrente que transporta os sedimentos da desembocadura do estuário. Da entrada do porto, sentido emissário, existe uma corrente e o emissário barra", explica.
O estreitamento da faixa de areia também acontece por outros motivos, e a subida do nível do mar não é descartada. Segundo a pesquisadora, pode-se ter um efeito global de subida de nível do mar, mas o estreitamento pode ser intensificado ou retardado dependendo de outras variáveis. "Se os rios estão trazendo areia continuamente, mas tem bloqueio de sedimento, ou não tenha uma costa que tenha esse balanço entre o nível do mar subindo e o desemboque de sedimento, ou uma costa que não tenha porte natural de sedimento, aí o nível do mar sobe. É o que está acontecendo nesse trecho do nosso litoral paulista", diz Barros.
Além desses fatores, a dragagem também estimula o desaparecimento das costas. Todas as praias próximas das áreas portuárias sofrem erosão, já que as áreas portuárias são dragadas. A oceanógrafa ressalta que, se nada for feito, a tendência é que a praia suma. "Teria que voltar a ter a conexão de Itaguaré com o Gonzaguinha, tirando o bloqueio da Ilha Porchat, porque isso voltaria a aliementar a praia. Outra maneira seria a alimentação natural, tirar de áreas que são fonte, com bancos de areias enormes, mover o sedimento daquele banco e colocar na faixa da praia, deveria-se estudar fontes de areia em regiões mais distantes da costa para repor. Mas lembrando que devem ser feitos estudos, pois esses bancos também têm um papel, esses bancos amortecem o efeito da onda", afirma a oceanógrafa
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